sábado, 26 de setembro de 2009

Um Burro na Sombra


Joãozinho sempre foi um menino difícil. Tinha preguiça de tudo, inclusive de levantar-se cedo. Seus pais e irmãos davam duro na roça e, todas as noites, freqüentavam as aulas há dois quilômetros dali.
Todos procuravam aliviar um pouco a batalha dos pais. Procuravam cuidar dos gados, porcos e outros animais que tinham na pequena rocinha. Seus pais se sentiam cansados da vida difícil do dia-a-dia. Entre os quatro filhos homens tinha João, o terceiro filho do casal. O moleque era diferente dos demais... Não queria saber de nada, a não ser “sombra e água fresca”. Era a preocupação da família. Dormia até altas horas, não tomava banho, enfim, “dava pano pra manga” conforme dizia sua mãe. Estava um rapazinho e não sabia ler nem escrever. Trabalhar? Muito menos! Só sabia reclamar. Que desgosto! Quanta preguiça!
Seus pais diziam:
- Meu filho tente mudar, ninguém pode viver assim! Todos precisam saber ler e trabalhar.
Não foi possível mesmo, o malandro não queria nada. Passava horas do dia no campo matando passarinhos ou debaixo de uma enorme árvore, onde curtia sua preguiça tirando bons cochilos, enquanto todos trabalhavam na pequena lavoura. João pegava seu velho chapéu e tampava o rosto da claridade. Todos que por ali moravam, ficavam penalizados e preocupados com o futuro do rapazinho. O coitado não sabia nada mesmo!
O tempo passou, seus irmãos foram continuar seus estudos na cidade. O pobre continuou no mesmo lugar, na mesma sombra. Todos melhoraram de vida e juntos levaram os pais. Todos adquiriram independência financeira. Seus pais abriram uma pequena loja de artesanato, onde conseguiam viver com dignidade.
Com o passar do tempo, João tentou aprender algum ofício, mas foi tarde! Ficou burro. A idade foi chegando, e então, tudo se tornou difícil para o rapaz. Sua vidinha solitária quase perdeu o sentido, não conseguiu nem arrumar uma namorada. Também, pudera, todas as moças de sua idade estudavam e trabalhavam planejando um bom futuro.
Passava quase todo tempo debaixo daquela velha mangueira, onde dormia por horas. Servia de exemplo para as outras crianças, pois quando uma delas não queria ir à aula, os pais logo citavam o exemplo de João. O coitado não sabia nada mesmo, era completamente sem noção. Não podia ver uma boa sombra, que lá estava ele, coitado, nasceu cansado! Mas ficou burro mesmo!
Hoje João vive sozinho na pequena roça, como um bicho do mato. Toda tarde, depois do almoço, o infeliz, continua fazendo o mesmo trajeto, ou seja: pega o seu velho chapéu surrado, coloca-o no rosto, deitado debaixo da antiga árvore.
Todos que passam por ali comentam: lá está o verdadeiro burro na sombra!


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